A vez do usuário
16/11/2017 | NTU
O transporte público urbano brasileiro ganhou uma inédita e merecida visibilidade durante o Seminário Nacional da NTU, realizado entre os dias 29 e 31 de agosto, em São Paulo. Além dos debates de alto nível sobre a qualificação dos serviços, mecanismos de financiamento, investimentos em infraestrutura, questões jurídicas e inovações tecnológicas, o evento contou este ano com um elemento diferenciado, fundamental para qualquer decisão ou medida ligada ao setor – a opinião dos usuários.
O lançamento, na abertura do Seminário, da pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017, realizada em parceria pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), trouxe novas perspectivas ao debate e gerou enorme interesse por parte da mídia nacional, que compareceu em peso para saber o que pensa e espera o usuário, tanto do poder público quanto dos operadores do serviço.
A pesquisa preenche uma lacuna de informação – a pesquisa anterior, feita pela NTU, foi realizada em 2006 – e revela que, apesar dos padrões mais complexos de mobilidade e dos avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos, a população segue utilizando majoritariamente os ônibus urbanos para se locomover (45,2% dos entrevistados), embora parcela considerável do público tenha deixado de utilizar esse meio de transporte (38,2%) nos últimos anos, devido à falta de flexibilidade dos serviços (rotas e horários), preço elevado da tarifa, pouco conforto e elevado tempo de viagem.
Parte desses usuários (43,6%) migrou para o transporte individual (carros e motos) devido às políticas de incentivo, ligadas ao modelo de desenvolvimento nacional fortemente baseado na indústria automobilística – o que intensificou o caos urbano e contribuiu para comprometer ainda mais a mobilidade, num círculo vicioso que só poderá ser rompido por meio de políticas corajosas, que restabeleçam as condições necessárias para um transporte público de qualidade. Outra parte dos usuários (29,1%), mais severamente atingida pela recente crise econômica, abandonou o ônibus e voltou a andar a pé.
As conclusões, apontadas na matéria de capa desta edição nº 29, reforçam muitas das bandeiras e propostas defendidas pela NTU ao longo das últimas três décadas: a necessidade de priorização do transporte coletivo sobre o individual, por meio da adequação da infraestrutura viária; a adoção de fontes extratarifárias para o custeio de tarifas e gratuidades, de modo a oferecer preços mais acessíveis e, ao mesmo tempo, garantir o equilíbrio financeiro das empresas; a implantação de redes de transporte sustentáveis e racionais, que ofereçam mais conforto, menor tempo de viagem e maior segurança aos passageiros.
São questões que demandam planejamento e políticas estruturantes, que vão além da responsabilidade dos operadores, concessionários de um serviço concebido e delimitado pelo poder público. Temas abordados no Seminário Nacional da NTU, cuja cobertura completa também integra a edição nº 29 da Revista NTU Urbano.