Tecnologia como aliada da segurança pública
23/05/2018 | Geral
O nome – “botão do pânico” – certamente não faz justiça ao dispositivo, que poderia se chamar “botão antirroubo” ou “botão seguro”. Mas o fato é que essa tecnologia vem sendo cada vez mais utilizada como parte das medidas de segurança adotadas por empresas e poder público para reduzir os índices de violência no transporte público. O equipamento é uma forma de comunicação direta que pode ser acionada por motoristas ou cobradores para denunciar casos de assalto, arrastão, assédio sexual e outros tipos de ocorrências registradas nos coletivos ou em terminais e estações. Versões digitais do conceito, disponíveis em aplicativos para celular, permitem que usuários do serviço também alertem as autoridades quando há casos de violência.
O botão do pânico já integra as frotas de muitas cidades. Enquanto em alguns lugares foram aprovados projetos de lei que definem a obrigatoriedade da instalação desse equipamento nos coletivos, em outros as propostas estão sendo analisadas. Há ainda cidades que já utilizam a tecnologia por opção das próprias empresas operadoras. As capitais Curitiba (PR) e Goiânia (GO) são exemplos de utilização dessa medida de segurança.
Como Funciona
O botão do pânico pode ser implementado de duas maneiras. A primeira e mais comum consiste na instalação do dispositivo no interior dos ônibus coletivos, em estações ou terminais. Nesse caso, o acessório deve ficar posicionado em local de fácil acionamento, mas não deve ser visível. Em geral, não há um custo extra por ser um item já existente nos equipamentos instalados para o controle operacional e fazer parte de uma série de tecnologias embarcadas de fábrica nos veículos novos, que podem ser ativadas ou não. Veículos de modelos anteriores, já em operação, podem demandar algum investimento para a instalação do recurso.
Em Curitiba, o botão do pânico está instalado desde 2012 em 1.564 ônibus urbanos e 369 estações-tubo, segundo informações do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp). O sistema é disponibilizado ao motorista no interior dos veículos e no posto de cobrança das estações-tubo, que conta com o sistema de câmeras como apoio para fiscalização. O botão é instalado em local estratégico para evitar os disparos acidentais e só pode ser acionado por operadores das empresas de transporte.
Após ativado, o dispositivo utiliza as tecnologias WEB / GPS / SMS para contatar o Centro de Controle de Operações (CCO) da Urbanização de Curitiba (Urbs) e informar a ocorrência. “Quando acionado o botão, surge um alerta na tela dos nossos computadores e um sinal sonoro para avisar sobre o disparo. A empresa responsável pelo veículo também recebe essa mensagem e os profissionais são orientados a acionar a Guarda Municipal ou Polícia Militar”, detalha Amilton Daeme, gestor de Fiscalização de Transporte da Urbs.
Apesar do bom funcionamento do sistema, Daeme acredita que é necessário realizar treinamentos para os operadores com o intuito de diminuir os acionamentos acidentais. O gestor ainda afirma ser fundamental estabelecer uma relação mais direta entre a tecnologia e a segurança pública. “A maior urgência é que o botão seja acionado diretamente nos setores de segurança, seja Guarda Municipal ou Polícia Militar, para acelerar o processo, pulando essa etapa de um terceiro precisar informar sobre a ocorrência”, pontua.
Funcionando de maneira parecida com a tecnologia presente nos ônibus de Curitiba, o botão do pânico não é novidade em Goiânia. Presente nos coletivos desde 2008, a tecnologia tem garantido mais segurança para os passageiros em toda a frota da capital. O sistema foi definido pelas empresas consorciadas e a área de Segurança do RedeMob Consórcio como alternativa viável e necessária às demandas.
Em situações de emergência, o motorista aciona o botão e uma mensagem é transmitida até uma central de segurança que dá encaminhamento perante a Polícia Militar. Por meio das informações de localização do ônibus, é encaminhada a viatura disponível mais próxima para realizar a abordagem do veículo. “O sistema é de fácil manuseio pelo motorista e o diferencial é a mensagem ser silenciosa aos ocupantes do veículo, preservando o sigilo do denunciante. O resultado das abordagens tem sido muito positivo, devido à característica da ação de surpresa”, observa Sandro Guimarães, gerente de segurança da RedeMob.
Tecnologia para usuários
Outra possibilidade de utilização do botão do pânico é oferecida aos usuários do transporte coletivo que encontram a tecnologia em softwares para celulares. O Cittamobi é um exemplo de aplicativo que, além de informações sobre o funcionamento do transporte público, possui o Botão de Incidente Grave (BIG). O aplicativo, desenvolvido pela Cittati, está disponível para download em Android e IOS, mas apesar de estar presente em mais de 70 cidades e ter mais de 6 milhões de downloads, a função que aciona o botão do pânico ainda não está habilitada em todas as localidades.
Fernando Matsumoto, gerente de produtos da Cittati, explica que a inclusão da funcionalidade só é possível mediante interesse dos órgãos públicos e empresas operadoras. “Quando surge a parceria com a Cittati, a empresa operadora busca a prefeitura ou órgão gestor da cidade para apoiar. Eles são responsáveis por providenciar uma central de atendimento para as ocorrências e intermediar a relação com as autoridades de segurança”, conta.
A parceria também é fundamental para o monitoramento das incidências. “O tempo real nos permite saber exatamente a localização do veículo. Se o usuário estiver dentro do ônibus, é possível ainda identificar a placa e o prefixo do ônibus pelo aplicativo. São essas informações que facilitam o trabalho policial”, revela Matsumoto.
Para os órgãos de segurança é disponibilizada uma plataforma web que permite o recebimento de informações on-line sobre a denúncia. Nesse espaço também é oferecido um painel de controle digital com diversos gráficos para auxiliar a gestão da segurança pública da cidade.
O BIG já está funcionando em Sorocaba e Guarulhos, municípios de São Paulo. O botão permite quatro opções de denúncia: assalto a mão armada, assédio sexual, violência e outros. Caso selecione a última opção, o cidadão deve digitar o que quer registrar. Para realizar a denúncia, o usuário precisa também informar dados de identificação (nome, CPF, telefone e e-mail) para assegurar a comunicação.
Reportagem publicada na Revista NTUrbano, edição março/abril 2018.