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Uma lição para 2018: "botar a boca no trombone"

03/01/2018 | Artigo

Em todos os casos em que os operadores do transporte público falaram com a sociedade e não repudiaram a imprensa houve, no mínimo, um equilíbrio de versões

O ano de 2017 foi um dos mais emblemáticos no setor de transportes de passageiros e pode ser considerado, sim, um divisor de águas.

Para 2018, uma das lições que ficam é: o setor de transportes deve “botar a boca no trombone” e não apanhar mais quieto. Quando entidades do setor levam a público o que acontece muita coisa muda, para o bem de todos (em especial do passageiro). Ou, ao menos, as versões se equilibraram. Cito alguns exemplos:

A NTU, ao protagonizar discussões como o peso dos custos operacionais dos ônibus, o financiamento de gratuidades e a perda de demanda no transporte público, consegue atingir parte da sociedade que antes só tinha as “versões oficiais dos governos” ou as versões irresponsáveis que usam clichês como “máfias dos transportes” e “caixas pretas” - que acontecem com uma pequena parcela de maus empresários, assim como existem maus trabalhadores, maus jornalistas e até maus lideres religiosos que falam de ônibus.

A despeito de toda a situação das investigações criminais sobre os transportes no Rio de Janeiro, o Rio Ônibus começou um diálogo sobre questões como congelamentos irresponsáveis de tarifas, concorrência com as vans e necessidade de melhor gestão pública na reformulação das linhas. Foram chamados jornalistas, distribuídas notas e cartas abertas à população, feitas reuniões com influenciadores digitais e blogueiros, inclusive busólogos – que adoram ônibus. Hoje, a sociedade começa a ponderar e até o irredutível prefeito Marcelo Crivella se reuniu com os empresários em dezembro.

Em Curitiba, desde o ano passado, o Setransp, sindicato que reúne as companhias de ônibus, começou também a trabalhar com a opinião pública e a mostrar questões como defasagem de tarifa técnica ou possíveis erros de dimensionamento de demanda pela gestora local. Quando Rafael Greca assumiu a prefeitura, as discussões já tinham sido colocadas. Depois de três anos sem novos ônibus, hoje o sistema já anuncia um cronograma de renovações, além de outros investimentos.

Na capital paulista, o SPUrbanuss sempre atende aos jornalistas e conseguiu explicar para a imprensa, por exemplo, que os bilionários subsídios na cidade vão para o sistema de transportes e não para as empresas de ônibus.

O empresário reclama, com razão, que é vítima de preconceito por parte dos jornalistas, que já vêm com a imagem pré-concebida na sociedade de que “dono de empresa de ônibus é bandido”. Mas o setor também tem preconceito contra jornalistas e pensa que os profissionais são “abutres” que querem atacar com a caneta.

Esta visão mútua está mudando, mas ainda tem muito caminho pela frente.

O importante é ser transparente e sincero. Não adianta só investir em bonitas campanhas, com foto de gente sorrindo de orelha a orelha. Campanhas são legais, mas vamos também falar de problemas, para poder resolvê-los.

 

*Adamo Bazani é jornalista especializado em transportes

Artigo publicado na Revista NTU Urbano, edição novembro/dezembro 2017

Tópicos
transporte público - empresas de transporte - comunicação
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