Estudo aponta que 80% dos condutores de veículos optariam pelos ônibus
06/07/2015 | BRT
Cada vez mais carros nas ruas, quase sempre com apenas um ocupante. A taxa de ocupação automotiva no Recife é de 1,2 pessoa por veículo, estando abaixo de toda a média nacional que é de 1,5. De acordo com especialistas, os impactos resultam diretamente em vias travadas e na consequente queda no rendimento do transporte público. Cerca de 80% dos motoristas poderiam deixar o veículo na garagem, caso o sistema de ônibus oferecesse mais agilidade. O apontamento é fruto de um estudo do programa de Gestão das Infraestruturas Urbanas, vinculado ao departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A prática de ceder ou pegar carona vem sendo excluída do cotidiano por valores culturais e de segurança, favorecendo uma frota que, no Grande Recife, já ultrapassa 1,2 milhão.
"O automóvel ainda exerce um fascínio na sociedade como símbolo de status e autonomia. As desonerações fiscais dos últimos anos facilitaram a aquisição do carro próprio em diversas classes, sem levar em conta os impactos que seriam gerados. Como a prioridade ao transporte público se resume apenas a discursos, o cidadão mais simples é quem paga a conta", explica o consultor em mobilidade e especialista em transportes, Carlos Augusto Elias, autor da pesquisa, que considerou um universo de cerca de 500 entrevistados. Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, 395 linhas de ônibus operam na Região Metropolitana, executando mais de 26mil viagens. "O senso comum é sempre de muita demora e superlotação. Quem tem carro, logo desiste", reconhece Elias.
O recorte de insatisfação é somado às contribuições da campanha "Qual a cidade que você quer?", lançada pelo Grupo de Comunicação Folha de Pernambuco. As sugestões devem ser enviadas ao e-mail acidadequevocequer@folhape.com.br. O material será encaminhado ao Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS), que está coordenando a elaboração do Plano de Mobilidade do Recife.
Na visão do especialista em engenharia de tráfego, Stênio Cuentro, o atual formato de remuneração, por meio do IPK (Índice de Passageiros Transportados por Quilômetro Rodado), acaba desfavorecendo o usuário. "Para conduzir cem pessoas, por exemplo, as empresas são oneradas da mesma forma, caso disponibilizem cinco ou dez ônibus. A tendência natural será pela redução dos custos", alertou.
Moradora de Apipucos, na Zona Norte da Capital, a jovem Simone Mourão, de 25 anos, é um dos muitos retratos do problema. Apesar do trajeto de poucos quilômetros até o bairro vizinho Dois Irmãos, onde estuda, ela não dispensa o veículo próprio. Apesar da instalação de corredores de BRT, com a promessa de maior fluidez, a situação se repete para quem enfrenta trajetos bem mais longos. "Os ônibus não trafegam o tempo inteiro por corredores exclusivos e, mesmo assim, ainda disputam espaço com carros de passeio. Não tem agilidade", critica o auxiliar de logística Wagner Bezerra, 32, que segue ao volante de Igarassu, onde mora, até o Centro do Recife.
Irregularidades - As denúncias de fraudes n sistema de transporte pautaram as discussões da Câmara d Vereadores, em junho do ano passado. No conteúdo estava o descumprimento das Ordens de Serviço de Operação (OSO) que direcionam o quantitativo de viagens e o intervalo para cada linha. Conforme o levantamento, foi verificada a supressão de mais de 1,5 mil viagens. "Uma clara sonegação do direito da população", ressalto o autor da medida, à época vereador do Recife, Raul Jungmann. O caso tinha pretensão de impulsionar uma CPI. Já o inquérito aberto no Ministério Público, não registrou avanços até o momento.
Fonte: Folha PE