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Empresas de ônibus de todo o país lançam projeto de inovação para recuperar passageiros e mudar imagem do transporte

10/05/2019 | NTU

Chamado ‘Coletivo’ programa da NTU deve se basear em soluções tecnológicas que serão desenvolvidas por empresas de diversos setores da economia

Nos 25 últimos anos, cada vez mais pessoas têm deixado o transporte por ônibus nas cidades em todo o País. De acordo com a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), que reúne mais de 500 viações em todo o País, no acumulado, a perda de demanda se aproxima de 25%.

Mas estes passageiros, em sua maioria, não estão indo para as redes de trens e metrô, muito acanhadas nas regiões metropolitanas brasileiras. Estes passageiros têm partido para o transporte individual.

Mais recentemente, opções como os aplicativos de transportes também fazem com que os ônibus percam mais gente, ao menos em algumas viagens, em especial, nos trajetos pequenos, que são os que realmente dão lucro e que financiam as linhas mais longas que atendem à periferia.

Ou seja, na visão das empresas de ônibus, os aplicativos estão ficando com o “filé” dos transportes. Isso sem contar que não precisam transportar gratuidades e seguir itinerários fixos.

As empresas de ônibus já expuseram o problema. Mas reclamar não tem adiantado. Assim, as companhias de ônibus decidiram parar apenas de reclamar e reagir.

O primeiro passo para isso, de acordo com o presidente da NTU, Otávio Cunha, foi dado nesta terça-feira, 07 de maio de 2019, com o lançamento do “Coletivo – Programa de Inovação em Mobilidade Urbana”.

“O setor de transportes sofre com o engessamento dos contratos públicos que não têm acompanhado as inovações. Com nossa iniciativa, vamos fazer diferente. Não vamos esperar e cobrar só do poder público. Vamos apresentar soluções, alternativas e temos certeza que o poder público será sensível”, disse Cunha.

Para o executivo, a questão vai muito além de as empresas de ônibus recuperarem passageiros, mas envolve a mobilidade nas cidades. Segundo Cunha, toda a solução para melhorar o ir e vir deve passar pelo transporte coletivo.

O programa da NTU vai desenvolver soluções tecnológicas e de conceitos para tornar os transportes coletivos atrativos de novo.

Aplicativos de transportes coletivos sob demanda, formas de melhorar a comunicação com o passageiro estão entre as soluções que devem ser desenvolvidas como modelos que podem ser seguidos e adaptados por qualquer empresa de ônibus.

“Identificamos 31 agentes em potencial que podem fazer parte desta que será uma nova fase no transporte coletivo. São startups, setor financeiro, fabricantes, esferas do poder público. Todos deve contribuir”, disse o Coordenador do Conselho de Inovação da NTU, Edmundo Pinheiro.

O setor de empresas de ônibus possui dois exemplos de transportes coletivos sob demanda, com o uso de vans, que segundo os operadores têm crescido e se mostrado como alternativas em potencial para fazer frente aos aplicativos como Uber.

Em Goiânia, há aproximadamente três meses está o City Bus 2.0, um sistema de vans que atendem trajetos em curtas distâncias de responsabilidade das empresas de ônibus.

Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, há pouco mais de um ano, o Ubus também com vans cujas viagens são determinadas pela demanda. Os passageiros pagam a viagem pelo aplicativo.

Em ambos os casos, as vans são diferenciadas, com ar condicionado, poltronas reclináveis e maior conforto.

Para Otávio Cunha, uma demanda diferenciada é algo que as empresas de ônibus devem tentar. Essas novas alternativas podem ajudar a financiar o sistema básico de ônibus

Segundo o presidente da NTU, objetivo é qualificar a rede básica de transportes públicos e oferecer mais alternativas de deslocamento coletivo.

Veja a entrevista na íntegra:

Diário do Transporte: Qual é o principal objetivo do evento?

Otávio Cunha: Estamos lançando hoje um projeto, criando no âmbito da NTU um hub de inovação para abrigar e desenvolver ideias que venham em benefício da população, do usuário do transporte público. Nós queremos soluções para o coletivo, para o transporte público coletivo. Todas as inovações hoje já disponibilizadas estão muito na mobilidade individual, e nós queremos agora buscar soluções inovadoras para o transporte público coletivo.

Diário do Transporte: Exemplo prático dessas soluções possíveis: aplicativos de transporte coletivo? Quais são os potenciais interessados nos projetos?

Otávio Cunha: A ideia é exatamente buscar soluções alternativas, reinventar o transporte público. Nós entendemos que há necessidade da existência de uma rede pública básica de boa qualidade e preço módico, e outros serviços que a inovação e a tecnologia poderão ajudar, como o transporte sob demanda, por exemplo, disponibilizado para camadas da população que tenham poder aquisitivo maior, por exemplo. Então você possa com mais flexibilidade na legislação ofertar serviços diferenciados e com isso você buscar o equilíbrio na rede pública de transporte. Essa que é a ideia básica.

Diário do Transporte: É uma reação das empresas de ônibus ao fenômeno Uber?

Otávio Cunha: Absolutamente, pelo contrário. O Uber para nós foi um desafio para buscar uma saída criativa. Diferentemente dos táxis, que se colocaram contra essa inovação, nós somos plenamente a favor, ainda que o setor esteja sofrendo uma queda de demanda para esse aplicativo no transporte individual, mas é uma ideia que pode ser aproveitada coletivamente em benefício do cidadão e das pessoas.

Diário do Transporte: Flexibilidade na legislação… os contratos são engessados, os editais de licitação novos ainda estão seguindo o modelo anterior, como convencer o poder público de que as concessões precisam estar a par dessa nova realidade?

Otávio Cunha: Aí a questão vai vir de forma contrária. Nós vamos criar as alternativas e, respondendo melhor a sua pergunta, estarão agregados a esse projeto vários segmentos da economia – os nossos fornecedores de equipamento, de ônibus, de carrocerias, a área financeira de um modo geral, academia, nós temos inúmeros atores que vão trabalhar nesse projeto. Acredito que daí os interesses poderão já não ficarem focados unicamente no interesse da operação do serviço, mas voltados para o benefício do cidadão. Eu acho que os poderes públicos nessa hora ficam sensibilizados quando perceberem que essas inciativas poderão trazer benefícios a toda a sociedade e melhoria do cidadão, criar facilidade para o seu deslocamento na cidade. Eu acho que a legislação vai ser flexibilizada na medida em que a gente apresentar soluções práticas e objetivas mostrando que isso vai ter benefício ao cidadão. O nosso foco é o cidadão, é o cliente do transporte público coletivo.

Como o modelo de Goiânia, citado como exemplo, vai ser adaptado?

Otávio Cunha: Goiânia iniciou um projeto, tem lá hoje um serviço sob demanda coletivo, é uma das opções que esse programa vai trazer. Certamente nós vamos desenvolver um algoritmo que será disponibilizado de uma forma muito acessível a todas as empresas, esse é um ‘projeto Brasil’, não é um projeto único para uma cidade. A nossa pretensão é colocar e disponibilizar essas ideias inovadoras que vão surgir, soluções inovadoras para o transporte público, colocar à disposição de toda a sociedade e de todas as empresas de transporte. Então, uma delas é esse transporte sob demanda coletivo. Muitas outras coisas vão surgir na medida em que se aperfeiçoar as relações, a forma de trabalho, como o planejamento e a oferta de serviços, você pode mudar… hoje nós temos uma programação, os serviços são ofertados à sociedade com uma programação por dia útil, sábado e domingo, que é um quadro de horário rígido. Não leva em consideração, nem sempre leva em consideração um dia de chuva ou de sol, então você tem desperdícios, você tem custos aí… Nós podemos efetivamente fazer uma oferta, um planejamento otimizado da oferta através de novas tecnologias, produtos que vão surgir no desenvolvimento dessas ideias. Então nós vamos contribuir para tornar o serviço mais eficiente, mais barato, o custo dele como um todo, e ao mesmo tempo com uma oferta melhor.

A ideia é focar bem no transporte público coletivo?

Otávio Cunha: A nossa ideia é aproveitar só o hub de inovações, ele só irá desenvolver ideias que estejam voltadas para o Coletivo, o transporte público coletivo. Nenhum outro segmento a economia a gente pretende explorar. Evidentemente que aqui nós vamos trabalhar, nesse hub de inovação, no desenvolvimento, na incubação dessas ideias iniciais. Quando elas estiverem num ponto de serem aceleradas aí teremos investidores de outras áreas, então isso vai virar um negócio, mas sempre voltado para o coletivo. Nós só vamos selecionar essas ideias no ‘Innovation Hack’ que pretendemos fazer ainda este ano… nós estaremos selecionando ideias dentro dessa visão do TC unicamente. Quando chegar o momento da aceleração vão aparecer investidores de outras áreas, é isso que dará força e suporte para essas ideias serem para o convencimento do poder público de que precisa seguir nessa onda nova.

Há planos de conversar com empresas de compartilhamento de patinetes, bikes, Uber, etc. para buscar parcerias?

Otávio Cunha: Estamos totalmente abertos a qualquer segmento, a qualquer interessado. Startups de qualquer ordem nós vamos abrigar desde que possam contribuir para o desenvolvimento dessas ideias que nós vamos selecionar, quando tivermos o ‘Innovation Hack’. E aí eu acho que o mundo da tecnologia           e da inovação não faz restrição a parcerias, absolutamente. Eu acho que esse talvez seja o caminho. Porque quando todos estiverem envolvidos fica um pouco mais fácil de convencer as outras pessoas. Hoje e o segmento empresarial, é o empresário vilão, que está falando que não consegue sobreviver… Esse discurso para o ouvido da sociedade é um discurso antigo. Isso é mais choro de empresário… Nós queremos mudar esse foco, e buscar parcerias que nos ajudem a mostrar que estamos pensando diferente, querendo mudar efetivamente, fazer um transporte público de boa qualidade.

Vocês não têm nenhum plano para criar um transporte, é só interferir no que já tem?

Otávio Cunha: As boas ideias que existem nós não vamos reinventar, vamos aproveitar. O transporte sob demanda já está aí, nós só vamos criar um algoritmo nosso que possa ser disponibilizado para as empresas, mas baseado no que já tem no mercado. Esse chamamento que ainda não fizemos, mas vai chegar o momento que vamos convidar e vamos disponibilizar em espaço físico e até virtual a adesão de qualquer pessoa que tenha boas ideias e que queira contribuir. Então agora o que nós temos à mão são essas experiências que já estão sendo feitas lá no ABC, com o UBUS, e com o 2.0 lá em Goiânia que é esse transporte sob demanda em áreas mais centrais. Acreditamos que isso é um serviço novo, que está atrelado à rede pública de transporte, e que pode ajudar na equação financeira do serviço básico.  O serviço básico é deficitário. Você não tem como melhorá-lo se não for aumentando custo, e o custo eu não consigo equacionar pela tarifa, então eu preciso reinventar algumas alternativas. Então é nesse sentido que eu acho que num primeiro momento o serviço de transporte sob demanda vai ajudar. Você pode criar serviços centrais…

Já tem resultados?

Otávio Cunha: Ainda não tem resultado, a nossa expectativa, evidentemente, é que isso possa contribuir. Nós acreditamos que exista nos centros urbanos. Você tem diferentes níveis de consumo da população. Então você pode ofertar serviços, um pouco mais caros, de melhor qualidade, para um nicho, um transporte que seja de acordo com o nível de consumo da população, e esse somatório de serviços é que vai permitir isso.. Você pode migrar para o transporte escolar, ou uma outra opção, você tem serviços de fretamento para indústrias, tudo isso sob demanda. De maneira que um único aplicativo vai permitir. Sem falar no que você tem agregado por trás disso que é a questão dos meios de pagamento. Você não faz um aplicativo desse funcionar sem os meios de pagamento. E aí tem parcerias no mundo financeiro, que serão investidores desses projetos nossos. E nós poderemos também estar associados a isso e aproveitando recursos que existem. Nós temos hoje 40 milhões de passageiros por dia que andam nos transportes que são consumidores… isso pode gerar recursos, fontes alternativas de receita que podem advir daí. Como é que funciona hoje a Amazon? Ela trabalha, tem “n” serviços ofertados para todos. Nosso usuário de transporte poderá ter um aplicativo onde ele possa estar no ônibus e estar comprando, por exemplo… e você ter alternativas também agregadas a isso. Então os meios de pagamento junto com esses aplicativos podem perfeitamente gerar outras fontes de receita.

Fonte: Diário do Transporte

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