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BRT de Salvador começa a sair do papel

08/10/2018 | BRT

O sistema BRT está presente em cerca de 200 cidades pelo mundo e tem sido uma das apostas para transformar a mobilidade dos grandes centros urbanos brasileiros. Em Salvador, o projeto do novo modelo de transporte ganhou impulso e a primeira etapa já está em fase de obras. De acordo com a prefeitura da cidade, esse trecho será entregue em junho de 2020, beneficiando diretamente 340 mil usuários.

As obras serão realizadas em três etapas para facilitar o dia a dia de quem utiliza o transporte público entre o centro e a região do Iguatemi, considerados os principais polos econômicos da capital. Segundo informações disponibilizadas pela prefeitura de Salvador, o projeto contempla um sistema moderno e de alta capacidade com tecnologia 100% nacional, a fim de transformar o transporte público de uma das áreas mais críticas em mobilidade urbana da cidade.

Estrutura e operação

O sistema teve as obras iniciadas em março deste ano e terá capacidade de transportar até 31 mil pessoas por hora. Serão construídos viadutos, elevados, ciclovias e linhas exclusivas para melhorar a vida dos usuários do transporte público e, ao mesmo tempo, desafogar o trânsito de quem passa pelas avenidas Vasco da Gama, Juracy Magalhães e ACM.

A primeira etapa terá uma extensão de 2,9 km. Já o segundo trecho será de 5,5 km. A prefeitura pretende iniciar as intervenções ainda no segundo semestre de 2018 para que as etapas um e dois sejam entregues no mesmo prazo. Está prevista ainda a implantação de uma terceira etapa, que está em fase de projeto e captação de recursos.

Inicialmente, serão instaladas dez estações e três tipos de linhas diferentes. A Linha Expressa ligará diretamente os pontos inicial e final. Enquanto isso, a Linha Paradeira será responsável por realizar paradas em todas as estações ao longo do percurso. Já a Linha Expandida, além de percorrer o trecho BRT, também terá a função de levar e buscar passageiros nos bairros próximos. A expectativa é que o percurso completo seja realizado em apenas 16 minutos.

Impasse

A etapa que ligará o Parque da Cidade à região da rodoviária está sendo executada pelo Consórcio BRT em meio a polêmicas, já que o projeto escolhido para Salvador tem sofrido críticas de parte dos soteropolitanos. Há quem aprove e quem discorde do projeto desenvolvido; entre os principais questionamentos estão a falta de políticas adequadas, o espaço reservado aos modais individuais e eventuais impactos ambientais decorrentes da remoção de árvores para a nova via.

Para o professor da pós-graduação de engenharia civil da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e vice-chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geodésia, Juan Pedro Moreno Delgado, o projeto não atende às necessidades de mobilidade da capital baiana. Ele afirma que o problema está na concepção da infraestrutura. “O projeto determina a instalação de seis faixas, mas enquanto duas são reservadas para o BRT, as outras quatro faixas foram pensadas para o transporte individual motorizado”, aponta.

Delgado acredita que a proposta reforça a cultura do automóvel em Salvador. Para ele, a solução está no investimento em políticas públicas que incentivem os motoristas a deixarem seus carros em casa, e não o contrário. “As características do projeto estão equivocadas e caminham na contramão da tendência mundial, que busca uma nova realidade para as cidades”, ressalta o especialista.

A posição da prefeitura

A prefeitura reconhece os desafios, mas afirma que o BRT não oferecerá danos para Salvador, já que o projeto é focado nos eixos de mobilidade, transporte público e infraestrutura. Além disso, defende a inclusão de iniciativas de responsabilidade ambiental como um importante compromisso para reduzir os impactos e reparar possíveis danos ao meio ambiente, um dos principais motivos para manifestações contrárias.

Segundo o órgão, foram realizados o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), além de audiências públicas no Ministério Público da Bahia, que contaram com a participação do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam). Com isso, as obras do BRT estão sendo executadas com base em estudos de reestruturação urbanística e paisagismo, intervenções no tráfego com novos viadutos, acessos, ciclovias, rearborização e obras de macro e microdrenagem.

No planejamento da prefeitura ainda está a previsão da plantação de duas mil árvores para compensar a remoção da vegetação existente, conforme determina o Plano Diretor de Arborização Urbana de Salvador, em vigor desde 2017. Fora isso, mais 1.700 árvores serão plantadas no entorno dos corredores do BRT e outras 169 árvores serão transplantadas, a maior parte para o Parque da Cidade.

Entenda a proposta

O projeto do BRT faz parte do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Salvador (PlanMob), criado pela prefeitura para orientar políticas públicas do setor de mobilidade. O PlanMob está inserido tanto no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) quanto no eixo “Investe” do programa Salvador 360º, que também envolve ações realizadas pela prefeitura e sociedade.

O BRT chegou a Salvador com a proposta de reduzir o tempo de viagem, diminuir o impacto ambiental e garantir veículos confortáveis e de tecnologia avançada para a população. A novidade representa uma grande mudança para os usuários do transporte público da capital e também para as empresas que operam em Salvador.

O presidente da Integra (Associação das Empresas de Transporte de Salvador), José Augusto Evangelista de Souza, revela que as empresas de transporte foram comunicadas desde o início da realização do projeto e estão atentas ao processo. No entanto, as empresas ainda não possuem uma posição definida sobre o sistema. “O BRT está previsto no Plano Diretor de Mobilidade do Município, mas ainda não foi apresentado um Plano Operacional; só assim poderemos avaliar se o modal atende às necessidades de mobilidade urbana de Salvador ou não”, afirma José Augusto Evangelista de Souza.

 

* Matéria publicada a revista NTUrbano, edição julho/agosto

 

Tópicos
Brasil - BRT - mobilidade urbana - investimentos
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