O terceiro ano da pandemia começa com a Covid-19 sob controle e com expectativas concretas de retomada da economia, apesar dos impactos negativos do conflito da Ucrânia. Para o transporte público brasileiro, o cenário ainda é de grandes desafios: mais de uma centena de sistemas de transporte foram impactados pela interrupção parcial ou total de suas operações no período pandêmico, resultado da profunda crise que o setor ainda atravessa e que tem causado perdas da ordem de um bilhão de reais mensais em nível nacional. Prejuízos que persistem, na medida em que a recuperação da demanda, observada no último ano, não conseguiu ainda atingir os níveis anteriores à Covid-19 – e talvez nunca consiga.
Por outro lado, a pandemia também representou muitas lições aprendidas, sendo a principal delas a importância do engajamento do poder público local na garantia da continuidade dos serviços. Os subsídios públicos, prática comum em outros países, foram, pela primeira vez, aplicados em escala significativa no transporte coletivo brasileiro: pelo menos 108 cidades aportaram recursos emergenciais em diferentes formatos aos seus respectivos sistemas de transporte público, medida que teve papel fundamental para prevenir o colapso e evitar o pior.
A separação da tarifa pública ou de utilização do serviço, paga pelo passageiro, da tarifa de remuneração ou técnica, que custeia a prestação do serviço, com a diferença sendo coberta pelo poder público, é um mecanismo previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana até então pouco utilizado, mas que se revelou ser o mais efetivo para manter o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de operação, melhorar a qualidade do transporte coletivo e, ao mesmo tempo, reduzir o peso da tarifa para o usuário. Mas a adoção dessa solução em larga escala depende de novos arranjos institucionais e jurídicos, novas formas de contratação e financiamento, e, também, de novas fontes de recursos extratarifários, para que o poder público possa obter os meios necessários para cumprir com suas obrigações constitucionais e garantir o direito de ir e vir para toda a sociedade.
Estes são alguns dos temas abordados na 35ª edição do Seminário Nacional NTU, que debaterá este ano os melhores caminhos para se recuperar a demanda perdida e viabilizar um transporte público de mais qualidade, com menor custo para o bolso do passageiro pagante, em benefício da vasta maioria da população que mais depende deste serviço essencial para a mobilidade urbana.
O seminário também reservará espaço para as novas tecnologias, com a programação do COLETIVO, o Programa de Inovação em Mobilidade Urbana da NTU, e painéis sobre novidades, lançamentos e tendências em tecnologias veiculares, combustíveis, sistemas inteligentes de transporte (ITS) e meios de pagamentos. Um dos temas em destaque é a redução de emissões, com a chegada ao Brasil dos novos motores Euro 6, a partir de 2023, e os próximos passos rumo à adoção de uma nova matriz energética para o setor, e a completa descarbonização do ônibus urbano no futuro. Temas complexos, que vêm despertando o interesse de gestores públicos, operadores e fornecedores de material rodante, e que respondem aos anseios da sociedade por um transporte mais sustentável, do ponto de vista ambiental - cuja viabilidade passa pelo engajamento de todos os atores envolvidos, e pela adoção de um novo conjunto de políticas públicas amplas e bem coordenadas.
O Seminário Nacional NTU 2022 acontece em paralelo com a LAT.BUS Transpúblico, Feira Latino-americana do Transporte, o maior evento em mobilidade urbana da América Latina, reunindo todos os segmentos do transporte coletivo urbano, rodoviário e de fretamento do Brasil e da região. A ABRATI (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros), ANTTUR (Associação Nacional dos Transportadores de Turismo e Fretamento), FRESP (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo) e a UITP (Associação Internacional do Transporte Público) completam a programação de conteúdo no terceiro dia do evento.
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